Irmãos do Paraná com doença renal hereditária ganham rins do mesmo doador após sete anos de espera: 'Mudança fantástica na vida'
05/08/2025
(Foto: Reprodução) Irmãos do Paraná com doença renal hereditária ganham rins de um mesmo doador após sete ano
Após quase sete anos de espera por um transplante, os irmãos Jorge Mansano, de 63 anos, e Sérgio Mansano, de 67, de Maringá, no norte do Paraná, ganharam rins de um mesmo doador e foram transplantados no mesmo dia.
Os dois são portadores da Doença Renal Policística de Adulto Autossômica Dominante (DRPAD), uma patologia hereditária, que inclusive já acometeu outros membros da família deles. Saiba mais abaixo.
Como são irmãos, a condição genética parecida fez com que os dois estivessem aptos a receber a doação de rins de um mesmo doador - que teve morte encefálica e a doação autorizada pela família. A cirurgia aconteceu no dia 10 de julho, na Santa Casa de Maringá.
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Jorge contou que começou a sentir os sintomas da doença aos 40 anos. Com a evolução do quadro, aos 58 ele precisou passar pela hemodiálise. Ele e o irmão realizavam semanalmente o procedimento, três dias da semana, na Santa Casa.
Foram cerca de sete anos de espera para o Sérgio, que estava na 4ª posição na fila do transplante, e seis anos para o Jorge, que estava na 6º.
Jorge (à esquerda) e Sérgio (à direita) ganharam rins de um mesmo doador.
Alex Magosso/RPC
Morador da área rural de São Jorge do Ivaí, Jorge viajava todas às segundas, quartas e sextas para Maringá, a cerca de 50 quilômetros de distância, para fazer o tratamento. Em um dia, ele estava trabalhando na roça quando ouviu do sobrinho o recado de que iria receber o rim, mas até então, não havia a informação de que o irmão também seria transplantado.
"Meu sobrinho gritou lá de cia do morro: 'É pra você ir pra Maringá, pois você foi contemplado e vai receber um rim'. Eu corri, larguei minhas ferramentas na roça, fui para casa, arrumei minhas coisas e fui para Maringá. [...] Eu estava cochilando na maca quando a doutora me chamou e falou: 'Jorge, você vai ser transplantado de madrugada e o outro rim foi para o seu irmão'. Foi uma alegria total", lembrou Jorge.
Para Sérgio, a espera também não foi fácil. Ele conta que chegou a considerar a possibilidade de que ele e o irmão pudessem ser contemplados juntos por um transplante, mas não esperava que isso pudesse se tornar realidade.
"Ganhamos o rim do mesmo doador, isso é muito bacana. Jamais imaginava que pudesse acontecer. Um dia conversei com o médico e falei: 'Doutor, seria bom se eu e meu irmão conseguisse fazer um transplante junto'. Hoje isso deu certo, parece que estava preparado", contou Sérgio.
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O que é a Doença Renal Policística de Adulto Autossômica Dominante?
Ultrassom dos rins de Sérgio feitos antes do transplante. Na imagem, segundo o urologia, os órgãos estão tomados por cistos.
Cedida/Rafael Mori
De acordo com o urologista Rafael Mori, a DRPAD é uma condição genética que causa o desenvolvimento de múltiplos cistos nos rins - bolinhas de água - levando ao aumento gradual do tamanho dos rins e, em muitos casos, à perda da função renal.
"Nessa doença, os rins vão sendo substituídos por cistos, que são bolinhas de água. Essas bolinhas por si não fazem mal, porém o rim vai sendo substituído por essas bolinhas, então ele vai perdendo força. A doença também faz os rins aumentarem de tamanho, evoluindo até dez vezes o tamanho de um rim normal", explicou o médico.
Por ser uma condição genética autossômica dominante, o urologista explica que ela é transmitida de geração para geração, ou seja, de pais para filhos. No caso de Jorge e Sérgio, a doença acometeu outros membros da família. Alguns já foram transplantados e outros acabaram não resistindo, como o pai e duas irmãs.
Segundo Mori, a DRPAD atinge cerca de 1% da população. A doença não tem cura, por isso a hemodiálise funciona como um tratamento, mas em alguns casos, o transplante é a única saída, conforme o urologista.
'Grande coincidência'
Jorge (à esquerda) e Sérgio (à direita) receberam os novos rins no dia 10 de julho.
Santa Casa de Maringá
O urologista explicou que o fato dos irmãos terem recebido rins de um mesmo doador foi uma grande coincidência. Ele conta que realiza transplantes renais desde 2011 e essa foi a primeira vez que uma situação como esta acontecer.
"Uma coincidência grande. Como eles têm uma genética parecida, eles acabavam sendo listados juntos. Foi sorte, acaso divino. A gente chama as pessoas que receberam o rim do mesmo doador de irmãos de rim e, por coincidência, esses também são irmãos biológicos e agora também são irmãos de rins", contou o médico.
Para os irmãos, Jorge e Sérgio, a doação virou sinônimo de transformação. Após terem sido beneficiados, eles acreditam que com a divulgação da importância da doação de órgão, cada vez mais pessoas poderão ser salvas.
"Gesto muito lindo para quem precisa. tem muitos na fila esperando por uma oportunidade", disse Jorge, que também agradeceu à família do doador.
"A gente não sabe quem é, não conhece, mas teria muito desejo de conhecê-los, pegar na mão, dar um abraço caloroso e dizer para eles que esse órgão que eles doaram certamente vamos cuidar com muito carinho e vai estar em boas mãos."
O médico explicou que as informações do doador são sigilosas.
Recuperação
Mori ressalta que o transplante não é a cura da insuficiência renal, mas sim um tratamento eficaz. Isso porque a doença não atinge os rins transplantados, segundo o urologista.
Agora, Jorge e Sérgio estão se recuperando em casa e, conforme o especialista, precisarão de repouso e farão uso de medicamentos para o sistema imunológico pelos próximos meses.
Os irmãos contam que a recuperação tem sido tranquila. Hoje em dia, o simples ato de beber um copo de água ou fazer xixi, tem sido uma vitória.
"Até a maneira de fazer xixi já triplicou. Antes a gente fazia, 100, 150 ml, agora são 3,5 litros. Mudança fantástica na vida da gente. Desde o início da cirurgia já veio dando certo, nenhuma rejeição, nada", explicou Jorge.
Rim é o órgão que lidera a fila de espera por doações no Paraná
De acordo com o Paraná Transplantes, do Governo Estadual, atualmente 4.062 pessoas esperam por um transplante. Destas, 2.269 aguardam por um rim.
De janeiro a junho deste ano, foram realizadas 224 doações de órgãos no Paraná, sendo 154 em homens e 70 em mulheres.
Nos últimos dois anos - 2023 e 2024 - o Paraná foi líder nacional de doação de órgãos.
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